Usado pela primeira vez pelo cientista norte americano Mark Weiser em seu artigo "The Computer for the 21st Century" o termo Ubiquidade Computacional descreve a onipresença da informática no dia dia das pessoas.
A visão associada ao conceito pode ser ilustrada pelo processo cujo objetivo é tornar a interação humano computador (IHC) "invisível", integrar a informática com as ações e comportamentos naturais das pessoas, de uma forma com que elas não percebam que estão interagindo com um computador. Além disso, os computadores teriam sistemas inteligentes que estariam conectados o tempo todo, com um número suficiente deles integrados ao mesmo tempo atingindo-se uma forma de onipresença.
Essa proposta me parece, pelo menos superficialmente, similar às ideias trabalhadas em outra obra de Weiser já explorada em um trabalho dessa disciplina, o texto The World is not a Desktop. Tendo em mente agora as ideias da Unicomp, minha opinião persiste, acredito que mesmo sendo um conceito extremamente interessante, suas implicações são um tanto quanto desconcertantes.
Primeiro, um pouco de contexto, atualmente vivemos em um mundo globalizado e altamente conectado, muitos dos processos vitais para a operação das nossas sociedades são controlados por sistemas que muitas vezes não recebem atualizações ou manutenção por décadas. Isso é um problema estrutural e entendo que não tem a ver com a Ubicomp, infelizmente problemas como esses fazem parte da nossa realidade.
Um exemplo recente que pode ilustrar o meu ponto é o do cyber ataque ao oleoduto da empresa Colonial Pipeline, o ataque resultou em um problema logístico de distribuição, rapidamente especulou-se que haveria uma falta de gasolina em partes dos Estados Unidos. Em uma demonstração de enorme sensatez milhares de americanos correram para postos de gasolina, utilizando de quaisquer meios necessários para assegurar o próprio abastecimento, ironicamente muito similar aos eventos no inicio da pandemia com o papel higiênico. Além disso, o preço da gasolina e do petróleo tiveram uma alta histórica, o quê também resultou em problemas secundários por diversos outros mercados.
A questão é, essa crise poderia ter sido evitada, mas não necessariamente da maneira que você acha. Sim, o sistema tinha brechas, mas o ataque não impediu a operação do oleoduto, o quê parou de funcionar foram os sistemas responsáveis pelo faturamento e recebimento de pagamentos.
O problema originou-se novamente pelas mãos os operadores do sistema, pondo lucro acima da garantia de prover o serviço. Toda a concepção da integração de sistemas e da onipresença, para mim, remete à era dos mainframes, em que os computadores eram operados apenas pelas empresas que os faziam. Tanto se avançou nos últimos setenta anos para que o computador pudesse chegar ás mãos dos usuário da forma mais prática possível, e os apoiadores da Ubicomp graciosamente querem entregar o controle de volta para estas empresas.
A proposta da Ubicomp esquece que computadores não são ferramentas que funcionam magicamente, são máquinas extremamente complexas que requerem esforços enormes por partes das empresas que os desenvolvem. Essas empresas tem interesses próprios e assim como qualquer outra, tem um objetivo, o mesmo que causou o problema do oleoduto.
Outro fator muito interessante de ser analisando é que estamos no meio de uma escassez global de chips, microprocessadores e semicondutores. Atualmente, apenas duas empresas no mundo são capazes de fabricar tais produtos, Samsung Foundries e Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC). Devido a pandemia, estas empresas estão trabalhando em aproximadamente 100% de sua capacidade para atender as demandas de um mundo que, da noite para o dia, se viu tendo que se tornar digital.
Não apenas o preço de eletrônicos estourou, mas também se jogou uma luz em questões de sustentabilidade e e-waste. Empresas agora tendo que reavaliar a necessidade de colocar placas de circuito impressas em produtos e escolher onde colocar os escassos microprocessadores.
Além disso, um mercado que vê alta nos últimos anos é o das criptomoedas, onde a atividade de mineração viu uma alta enorme. Porém, ela trouxe consigo inúmeros outros problemas. Um deles é o enorme gasto energético resultado da mineração que em casos de algumas moedas supera o de alguns países.
Para que a Ubiquidade Computacional possa se tornar uma realidade, creio que a forma com quê tratamos o uso de computadores precise ser radicalmente melhorada, ao meu ver atualmente há problemas e brechas demais para que essa mudança venha para o benefício das pessoas, questões de privacidade, ética, sustentabilidade e outras devem ser abordadas antes que se estabeleça a onipresença dos computadores.
Em conclusão, antes de querermos colocar mais computadores no mundo, precisamos primeiro encontrar um melhor uso para os que já temos.
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